Os transtornos de
ansiedade estão envolvidos com a incapacidade de controlar o medo e a
dificuldade em regular emoções negativas, isto porque os transtornos de
ansiedade são em parte caracterizados pela resistência à extinção de reações
emocionais aprendidas a estímulos ansiogênicos e por comportamentos de evitação.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) abrange técnicas que permitem tanto a
extinção do medo condicionado quanto a regulação cognitiva de emoções.
O processamento
cognitivo nos transtornos de ansiedade envolve a vulnerabilidade, isso porque
os pacientes tendem a superestimar o perigo e a subestimar os recursos pessoais
para lidar com as situações que são interpretadas como perigosa, a partir do
momento em que ocorre uma avaliação de perigo ficam propensos a desenvolver
mais pensamentos que mantêm a ansiedade. Os próprios sintomas de ansiedade
decorrentes de uma avaliação de perigo podem transformar-se em nova ameaça
percebida, uma vez que prejudicam o desempenho ou são considerados como
possível sinal de ameaça. Durante o tratamento, o paciente é encorajado a
desafiar esses pensamentos, reavaliando sua expectativa de perigo. A exposição é uma das estratégias
utilizadas com essa finalidade. Durante as exposições o paciente fortalece seu
senso de controle reduzindo expectativas futuras de dano e aumentando seu senso
de auto-eficácia, o indivíduo apresenta redução da ansiedade e deixa de emitir
as respostas evitação. Assim, a exposição seria uma forma de intervenção
cognitiva que promove mudanças na expectativa de perigo dos pacientes ansiosos.
Dessa forma, ela se caracteriza não como uma técnica comportamental, mas
cognitiva, mesmo que ela não utilize estratégias de reestruturação cognitiva
explícitas, tem efeito similar por mediar mudanças nos pensamentos
disfuncionais. A memória do medo, uma vez estabelecida, se torna relativamente
permanente, sendo assim, a extinção possibilita o controle da reação de medo,
em lugar da eliminação da memória emocional por si só ( QUIRCK, GARCIA, & GONZALES-LIMA,
2006). Assim, a terapia através da técnica de exposição colabora para a
ativação de estruturas cerebrais responsáveis pela redução da expressão de medo.
Técnicas cognitivas e os
estudos de regulação da emoção
Pacientes ansiosos
tendem a focalizar em estados corporais que são compreendidos como aversivos,
ou seja, interpretam sensações orgânicas como perigosas ou ameaçadoras. Os
modelos teóricos enfatizam o papel da reação de medo das sensações físicas na
manutenção do transtorno de pânico. A focalização da atenção nas sensações
somáticas levaria a um aumento da ansiedade e conseqüentemente aumentaria as
sensações físicas, favorecendo a focalização ainda maior da atenção nas
sensações corporais. Durante o tratamento com terapia cognitivo-comportamental
uma das estratégias empregada é a técnica de distração, que tem como objetivo incentivar o paciente a focalizar
a atenção em outros estímulos, que não as sensações físicas, auxiliando na
redução dos sintomas de ansiedade (RANGÉ & BERNICK,2001 ).
As estratégias de regulação
da emoção se estendem desde o controle
atencional até a reavaliação
cognitiva que permitem modular a percepção emocional e respostas
emocionais. Logo, a regulação cognitiva da emoção se dá por meio do controle
atencional ou por mudanças cognitivas mais elaboradas . A mudança cognitiva
pode ser utilizada para regular uma resposta emocional que já foi iniciada
através da reavaliação (OCHSNER & GROSS, 2005). A reavaliação cognitiva
está relacionada à regulação da emoção por meio da capacidade de interpretar
situações emocionais de forma a limitar a resposta emocional subsequente, Essa
regulação possibilita a redução da experiência negativa, favorecendo a
diminuição da ativação simpática (MOCAIBER, 2008; ). Assim, a reestruturação
cognitiva utilizada na TCC pode ser considerada como uma estratégia de
regulação da emoção, uma vez que modula as emoções por meio de mecanismos
cognitivos reduzindo o alerta fisiológico. Os estudos mostram que os
transtornos de ansiedade são em parte caracterizados pela resistência à
extinção de reações de medo, pelos comportamentos de evitação e pela
dificuldade em regular emoções negativas . Conseqüentemente, quando um paciente
ansioso consegue reestruturar seus pensamentos disfuncionais, ou seja,
interpretar a situação de forma mais adaptativa, ele estaria reduzindo seu grau
de ansiedade através de mecanismos cognitivos. As estratégias de exposição,
distração e reestruturação cognitiva são eficazes para a regulação emocional.
Assim, é importante ressaltar que o tratamento com TCC abrange técnicas
específicas que permitem tanto a extinção do medo condicionado quanto a
regulação cognitiva das emoções.
Referências:
MOCAIBER, I. I.eti al. Neurobiologia da
regulação emocional: Implicações para a terapia cognitivocomportamental. Psicologia em
Estudo nº 13, 2008, pp. 531-538
OCHSNER, K.
N., & Gross, J. J. The cognitive control of emotion. Trends in Cognitive Sciences, nº 9, 2005, pp.242-249. (Tradução
nossa)
PORTO, Patrícia et al .
Evidências científicas das neurociências para a terapia
cognitivo-comportamental. Paidéia
(Ribeirão Preto), Ribeirão Preto , v. 18, n. 41, p. 485-494,
Dec. 2008 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X2008000300006&lng=en&nrm=iso>.
access on 09 Feb. 2017.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2008000300006.
QUIRCK, G. J., Garcia, R., &
González-Lima, F. ). Prefrontal
mechanisms in extinction of conditioned fear.
Biology Psychiatry, nº 60, 2006, pp.337-343(tradução
nossa)
RANGÉ, B., & Bernik, M. (2001).
Transtorno de pânico e agorafobia. In B. Rangé (Org.), Psicoterapias cognitivo-comportamentais: Um diálogo com a psiquiatria. Porto
Alegre:Artmed, 2001, pp. 145-182.
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