quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Terapia cognitivo-comportamental e o tratamento da ansiedade

                         

Os transtornos de ansiedade estão envolvidos com a incapacidade de controlar o medo e a dificuldade em regular emoções negativas, isto porque os transtornos de ansiedade são em parte caracterizados pela resistência à extinção de reações emocionais aprendidas a estímulos ansiogênicos e por comportamentos de evitação. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) abrange técnicas que permitem tanto a extinção do medo condicionado quanto a regulação cognitiva de emoções.
O processamento cognitivo nos transtornos de ansiedade envolve a vulnerabilidade, isso porque os pacientes tendem a superestimar o perigo e a subestimar os recursos pessoais para lidar com as situações que são interpretadas como perigosa, a partir do momento em que ocorre uma avaliação de perigo ficam propensos a desenvolver mais pensamentos que mantêm a ansiedade. Os próprios sintomas de ansiedade decorrentes de uma avaliação de perigo podem transformar-se em nova ameaça percebida, uma vez que prejudicam o desempenho ou são considerados como possível sinal de ameaça. Durante o tratamento, o paciente é encorajado a desafiar esses pensamentos, reavaliando sua expectativa de perigo. A exposição é uma das estratégias utilizadas com essa finalidade. Durante as exposições o paciente fortalece seu senso de controle reduzindo expectativas futuras de dano e aumentando seu senso de auto-eficácia, o indivíduo apresenta redução da ansiedade e deixa de emitir as respostas evitação. Assim, a exposição seria uma forma de intervenção cognitiva que promove mudanças na expectativa de perigo dos pacientes ansiosos. Dessa forma, ela se caracteriza não como uma técnica comportamental, mas cognitiva, mesmo que ela não utilize estratégias de reestruturação cognitiva explícitas, tem efeito similar por mediar mudanças nos pensamentos disfuncionais. A memória do medo, uma vez estabelecida, se torna relativamente permanente, sendo assim, a extinção possibilita o controle da reação de medo, em lugar da eliminação da memória emocional por si só ( QUIRCK, GARCIA, & GONZALES-LIMA, 2006). Assim, a terapia através da técnica de exposição colabora para a ativação de estruturas cerebrais responsáveis pela redução da expressão de medo.

Técnicas cognitivas e os estudos de regulação da emoção

Pacientes ansiosos tendem a focalizar em estados corporais que são compreendidos como aversivos, ou seja, interpretam sensações orgânicas como perigosas ou ameaçadoras. Os modelos teóricos enfatizam o papel da reação de medo das sensações físicas na manutenção do transtorno de pânico. A focalização da atenção nas sensações somáticas levaria a um aumento da ansiedade e conseqüentemente aumentaria as sensações físicas, favorecendo a focalização ainda maior da atenção nas sensações corporais. Durante o tratamento com terapia cognitivo-comportamental uma das estratégias empregada é a técnica de distração, que tem como objetivo incentivar o paciente a focalizar a atenção em outros estímulos, que não as sensações físicas, auxiliando na redução dos sintomas de ansiedade (RANGÉ & BERNICK,2001 ).
As estratégias de regulação da emoção se estendem desde o controle atencional até a reavaliação cognitiva que permitem modular a percepção emocional e respostas emocionais. Logo, a regulação cognitiva da emoção se dá por meio do controle atencional ou por mudanças cognitivas mais elaboradas . A mudança cognitiva pode ser utilizada para regular uma resposta emocional que já foi iniciada através da reavaliação (OCHSNER & GROSS, 2005). A reavaliação cognitiva está relacionada à regulação da emoção por meio da capacidade de interpretar situações emocionais de forma a limitar a resposta emocional subsequente, Essa regulação possibilita a redução da experiência negativa, favorecendo a diminuição da ativação simpática (MOCAIBER, 2008; ). Assim, a reestruturação cognitiva utilizada na TCC pode ser considerada como uma estratégia de regulação da emoção, uma vez que modula as emoções por meio de mecanismos cognitivos reduzindo o alerta fisiológico. Os estudos mostram que os transtornos de ansiedade são em parte caracterizados pela resistência à extinção de reações de medo, pelos comportamentos de evitação e pela dificuldade em regular emoções negativas . Conseqüentemente, quando um paciente ansioso consegue reestruturar seus pensamentos disfuncionais, ou seja, interpretar a situação de forma mais adaptativa, ele estaria reduzindo seu grau de ansiedade através de mecanismos cognitivos. As estratégias de exposição, distração e reestruturação cognitiva são eficazes para a regulação emocional. Assim, é importante ressaltar que o tratamento com TCC abrange técnicas específicas que permitem tanto a extinção do medo condicionado quanto a regulação cognitiva das emoções.

Referências:

MOCAIBER, I. I.eti al. Neurobiologia da regulação emocional: Implicações para a terapia cognitivocomportamental. Psicologia em Estudo nº 13, 2008, pp. 531-538
OCHSNER, K. N., & Gross, J. J. The cognitive control of emotion. Trends in Cognitive Sciences, nº 9, 2005, pp.242-249. (Tradução nossa)
PORTO, Patrícia et al . Evidências científicas das neurociências para a terapia cognitivo-comportamental. Paidéia (Ribeirão Preto),  Ribeirão Preto ,  v. 18, n. 41, p. 485-494,  Dec.  2008 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X2008000300006&lng=en&nrm=iso>. access on  09  Feb.  2017.  http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2008000300006.
QUIRCK, G. J., Garcia, R., & González-Lima, F. ). Prefrontal mechanisms in extinction of conditioned fear. Biology Psychiatry, nº 60, 2006, pp.337-343(tradução nossa)
RANGÉ, B., & Bernik, M. (2001). Transtorno de pânico e agorafobia. In B. Rangé (Org.), Psicoterapias cognitivo-comportamentais: Um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre:Artmed, 2001, pp. 145-182.



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